Neste post, quero falar de algo mais silencioso, mais íntimo. Falo aquela canção secreta que toca meu coração de maneira única ou aquela dança solitária que se desenrola no meu quarto. É o livro que leio e escondo, aquele que não se compartilha, ou o sentimento que, por mais que eu tente mudar, permanece ali, vivo em mim. Vejo tudo isso como uma marca discreta, uma pinta escondida na minha pele, que só eu consigo tocar, um detalhe que é só meu e que guardo com carinho.
A pinta escondida que quero mostrar para vocês é o filme Questão de Tempo . Muitas pessoas devem conhecê-lo ou já ter ouvido falar dele, mas, para mim, esse filme tocou em lugares diferentes, e talvez seja por isso que é tão difícil escrever sobre ele. Para quem não conhece, Questão de Tempo conta a história de Tim, que, ao atingir certa idade, descobre que os homens de sua família têm o poder de viajar para o passado e, assim, mudar o futuro.
Ao assistir esse filme, descobri que existe amor à segunda vista. Na primeira vez, foi apenas mais um filme bom que eu tinha visto. Mas, na segunda, não sei... foi diferente. Cada detalhe começou a fazer sentido para mim. Então, iniciei uma busca implacável: assistir e reassistir o filme até que eu tivesse entendido todas as mensagens, decorado todas as cenas, falas, músicas e expressões dos personagens. Mas cheguei à conclusão de que nunca será o suficiente.
Para mim, esse filme fala muito mais do que ter o controle do tempo, mas sim sobre as relações que construímos ao longo da vida. Por isso, dividi a história em três partes, ou melhor, em três relações: AMOR, AMIZADE e FAMÍLIA e como esse filme modificou minha visão sobre cada uma dessas áreas.
Hoje, vamos falar do amor.
Ah o amor!
Quando nos decepcionamos com um relacionamento amoroso, podemos nos perguntar: "O que eu poderia ter feito de diferente para mudar essa situação? Que parte de mim faltou para que eu complementasse a outra pessoa?" E nada que uma bela viagem no tempo não resolva, não é?
Para o alívio de uns e desespero de outros, de acordo com os meus botões, creio que não.
No filme, o primeiro interesse romântico que nos é apresentado é Charlotte, interpretada pela maravilhosa Margot Robbie. Nosso querido Tim tem uma enorme paixonite por ela e passa todo o verão tentando conquistá-la. Ele se esforçou para ser gentil, cuidadoso, charmoso e mostrar todos os atributos que, em teoria, um homem deve ter. Mas há um pequeno problema: ela simplesmente não está interessada. Ele poderia fazer o que fosse necessário, voltar no tempo quantas vezes quisesse, mas isso não mudaria nada, porque ELA não quer. E, com isso, podemos aprender a primeira grande lição das viagens no tempo:
Nem todas as viagens no tempo do mundo podem fazer alguém te amar.
Por mais que desejemos voltar no tempo para mudar algo em um relacionamento, a verdade é que algumas coisas não dependem de nós. Não podemos controlar os sentimentos alheios nem forçar conexões que não existem, pois sentimentos verdadeiros não surgem por insistência, mas como consequência. Às vezes, a única coisa que podemos fazer é aceitar e seguir em frente. E seguir em frente pode ser maravilhoso.
Pois o segundo interesse romântico apresentado é a incrível Mary, interpretada pela encantadora Rachel McAdams. Tudo o que envolve esse casal, para mim, sem querer parecer dramática, é perfeito. Ouso dizer que até as falhas deles são perfeitas. Tim e Mary se conhecem em um encontro às cegas, mas, no meio do caminho, os planos mudam, pois Tim precisa resolver outras questões, em outras linhas do tempo. Isso faz com que ele e Mary não se encontrem naquele momento específico. No entanto, isso não impede Tim de tentar encontrá-la de todas as formas possíveis.
Tenho fé de que todas as mulheres deveriam ser amadas como Tim ama Mary. Ele não mede esforços para conhecê-la melhor, compartilhar seus interesses, torná-la feliz e incluí-la em sua vida. Por outro lado, Mary é sempre gentil e excêntrica, sem deixar de expressar sua opinião e suas fraquezas, com um humor invejável.
Tim e Mary representam aquele tipo de amor que não precisa de artifícios grandiosos ou reviravoltas mirabolantes para existir. Eles mostram que o amor acontece naturalmente, apesar dos desencontros. Tim se esforça para encontrá-la novamente, mas não porque precisa convencê-la a amá-lo e sim porque, desde o primeiro momento, sente que ela é alguém com quem quer compartilhar sua vida. E quando finalmente a reencontra, tudo flui como deveria. Mary, com sua gentileza e seu jeito leve, prova que o amor verdadeiro não exige mudanças drásticas, mas sim a escolha de estar ao lado do outro.
É um amor que não precisa ser imposto, conquistado a qualquer custo ou salvo por uma viagem no tempo. Ele simplesmente acontece de maneira leal e companheira.
Digo isso porque, algum tempo depois, Tim reencontra Charlotte, e esse encontro me fez refletir sobre duas questões. Primeiro, Tim tenta, de várias formas, evitar essa situação, seja sendo educado ou simplesmente não falando com ela. Mas, mais uma vez, algumas coisas acontecem independentemente da nossa vontade. Não porque uma pessoa precisa estar em nossas vidas ou porque tudo está predestinado, mas porque certas experiências nos moldam conforme quem somos e as situações em que nos encontramos.
Muitas vezes, nos pegamos pensando: "Se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria conhecido essa pessoa." Mas será que isso realmente mudaria algo? A vida tem um jeito curioso de nos ensinar o que precisamos aprender, independe de quem esteja ao nosso lado.
As pessoas que cruzam nosso caminho não estão ali por um destino, mas porque, de alguma forma, fazem parte do processo que nos transforma. Se não fosse aquela pessoa específica, seria outra. Se aquela situação não tivesse acontecido, outra tomaria seu lugar, porque o verdadeiro ponto de mudança não está no outro. O aprendizado sempre chega, ainda que de formas diferentes. A maturidade não vem de evitar situações difíceis, mas de aprender a lidar com elas. Talvez a questão não seja quem encontramos, mas como nos permitiremos ser afetados.
E, quando se trata de ser afetado, Tim tirou essa de letra ,o que me leva à minha segunda reflexão. Nessa situação, ele teve a oportunidade de trair Mary, pois, dessa vez, Charlotte estava interessada nele. Mas ele não o fez. No entanto, se ele tivesse cedido, se arrependido e voltado no tempo para impedir que acontecesse, ainda assim seria um traidor?
A traição não começa no ato, mas no coração. O desejo já é um desrespeito silencioso, ainda que nunca se torne realidade. Podemos mudar acontecimentos e refazer escolhas , mas e o que sentimos? A sinceridade pode transformar uma pessoa, mas apagar uma ação não significa apagar quem ela foi naquele momento.
Isso nos leva a uma reflexão ainda mais profunda: o que nos define não é apenas o que fazemos, mas quem escolhemos ser quando ninguém está olhando. Se tivéssemos o poder de voltar no tempo e corrigir nossos erros, será que realmente seríamos melhores ou apenas menos condenáveis?
No fim, o tempo pode ser reescrito, mas o coração sempre guarda a verdade.
E o que torna a história de Tim e Mary tão bonita para mim é que a verdade deles é leal, encantadora, tranquila e repleta de companheirismo. Eles escolheram se amar e construir sua própria família.
O amor deles não é grandioso no sentido de emoções intensas ou dramas exagerados. Pelo contrário, é encantador justamente porque é real. Há tranquilidade na forma como se apoiam, cumplicidade nos pequenos gestos e um companheirismo que não exige provas , apenas uma presença pura.
Tim poderia ter mudado muitas coisas, mas nunca quis mudar Mary. Não foi o tempo que construiu esse amor, mas a constância da escolha de ficar.
Agora, resta a pergunta: voltar no tempo mudaria sua história de amor ou apenas revelaria o que sempre esteve em seu coração?
Meu deus isso foi INCRÍVEL. Superou completamente minhas expectativas! Antes que eu percebesse já estava envolvida. Confesso que nunca ouvi sobre esse filme, mas agora planejo vê-lo.
AMO TANTO ESSE FILME 😭😭💗💗 sua escrita é muito encantadora!!!
lembro que quando eu vi o filme fiquei completamente obcecada pelo casal e como a história deles foi construída, e lendo esse texto me deixou com muiiiiita vontade de rever